01/04/15 - Coluna: Cine Manifesto Autor: Thaís Carlos
Primeiramente já deixo claro que este texto terá
muitos spoilers, então recomendo assistir ao filme antes de ler – até porque fazer
e ler crítica, na minha visão, é algo que se faz depois de assistir ao filme. E
já fica o aviso de jamais abaixar suas expectativas perante a qualquer coisa
que quiser consumir mesmo se estiver recebendo críticas negativas. Cada
experiência é única em cada indivíduo e o texto a seguir relatará a minha com o
tão polêmico filme Batman VS Superman da DC Comics:
Uma
crítica à Crítica por uma “leiga”:
Minha crítica é “leiga” no sentido de que, os únicos
quadrinhos que li da DC Comics foram os dos Jovens Titãs, e mesmo assim li
pouquíssimos. Toda a minha bagagem das histórias da DC, vem do desenho animado
Liga da Justiça (a adaptação de Bruce Timm e Paul
Dini, ou “aquele que passava na hora do almoço no SBT”) e dos filmes
anteriores do Batman e do Superman. Vejo
que ter assistido ao filme sem entender as inúmeras referências aos quadrinhos
foi bom para tecer a minha crítica, porque o que eu mais li foram reclamações
de que o filme possuía referências demais aos fãs dos quadrinhos, e que isso o
tornava confuso, logo os leigos como eu não entenderiam.
Essa afirmação me deixou bastante surpresa porque a
maioria das perguntas que levantei durante o filme, foram respondidas no
decorrer da história. Sejam por diálogos, sejam por atitudes dos personagens. É
lógico que houveram muitos detalhes que não foram explicados, mas que deixaram
o clima de mistério, a clássica receita em deixar o espectador ansioso para o
próximo filme. Parece que os críticos esperam todas as respostas de uma vez, e
esquecem que cada personagem possui um extenso passado, e que seria impossível
explicar tudo isso num único longa metragem, ainda mais nessa época de consumo
rápido. São poucos os que apreciam sem adormecer, atualmente, filmes extensos
como “O Poderoso Chefão” ou “O Senhor dos Anéis”. E por citar essas trilogias,
esquecem também que a receita é a mesma: levantar perguntas no primeiro,
explicar parte delas no segundo, e concluir todos os mistérios no terceiro - e
é isso que espero que aconteça nos próximos filmes. Pois Batman VS Superman
deixa bem claro que haverá uma sequência.
O que me leva
a questionar que talvez boa parte da crítica não seja pelo filme ter um roteiro
ruim, mas pelo comodismo “Superamigos” (em referência a animação de 1973 da
Liga da Justiça) que estamos acostumados a assistir: histórias rápidas, onde
tudo é explicado de forma bem direta, e que em essência se resumem a pessoas
confiantes, honestas e bem humoradas com superpoderes que enfrentam outras
pessoas com superpoderes só que problemáticas ou monstros que querem destruir o
planeta. E Batman VS Superman, quebra justamente tudo isso.
O
Roteiro:
O filme já começa com um velório (e termina com
outro). Quem já assistiu Watchmen, logo percebe a semelhança nos tons sombrios
da trama, que estendem-se assim até o seu fim. Definitivamente o roteiro não é
feito só para se impressionar com lutas, rir com algum personagem engraçadinho
e sair satisfeito por ter visto seus heróis salvando o mundo.
A história apresentada vai muito além disso, porque de
um lado estão as reflexões de um humano que ao perder seus pais quando pequeno,
decide-se tornar um justiceiro usando toda a sua riqueza para confeccionar super
armas e super equipamentos para ajudar os habitantes de sua corrompida cidade.
Até que de repente vê-se diante de uma possível ameaça: um alienígena com
superpoderes devastadores, que passa a ser venerado pela humanidade, pois
usa-os para o bem – mas, até quando? Como confiar que um ser de outro planeta nunca
irá se corromper num planeta como a Terra?
Enquanto do outro lado, este ser alienígena que
perdeu o seu planeta junto com todos os seus semelhantes, tenta encaixar-se
escondendo-se como humano, num planeta com hábitos e sentimentos completamente
diferentes dos seus. Questionando-se sobre o seus atos heróicos, se são sua
verdadeira vontade, ou a vontade do pai terráqueo que o adotou.
Diferente de como o filme é vendido, Batman VS
Superman, não é um filme sobre a luta entre dois super-heróis mas sim uma luta
entre razão e emoção, deuses e a humanidade. É mais um conflito psicológico do
que físico, onde qualquer escolha pode levar e salvar milhares de vidas.
O desencadear dos pensamentos de desconfiança do
Batman sobre o Superman ocorrem após a chegada de uma nave alienígena a Terra,
e durante a luta entre Superman e a criatura alienígena, milhares de vidas se
perdem devido à destruição do centro da cidade. Um ano após o ocorrido, Lex
Luthor o bilionário, herdeiro da empresa Lexcorp estuda sua nova descoberta
sobre as pedras de kriptonita encontradas na nave alienígena, e tenta receber
subsídios do governo para conseguir realizar seu plano de construir a única
arma que pode deter o Superman, aproveitando-se do momento de descontentamento da
população e fervorosos debates entre o governo contra a existência dele. Com o
seu projeto sendo barrado pela senadora Finch, Luthor apela para meios mais...
Explosivos. Colocando Superman como o vilão de ataques terroristas, despertando
a ira em Batman, que já estava ainda mais atormentado, após ter recebido uma
visão distópica do futuro de um viajante do tempo, onde a Terra está sendo
dominada por alienígenas liderados por Superman. Bruce Wayne então, arma-se por
completo para enfrentá-lo. O que para a surpresa de ambos, não passava de um
plano muito bem elaborado de Luthor, para conseguir derrotá-lo pelas mãos do
morcego...
Eu não sei qual foi a grande dificuldade em
assimilar essa história. É óbvio que os detalhes dos quadrinhos enriqueceriam
mais ainda as motivações dos personagens, porém, os acontecimentos que
desencadeiam a luta entre os dois são claros, assim como a criatura feita do
DNA de Luthor e o alienígena, surge para a batalha final também, então eu me
pergunto o que ficou de tão confuso em tudo isso?
O roteiro peca apenas em ser mais um filme do Batman,
por focar apenas em exibir o passado dele, já muito bem explorado nos filmes
anteriores do Nolan. Tornando vagaroso o início do fim. Não sobrando espaço
para explorar a história do Superman, e principalmente de Lex Luthor, o grande
vilão da trama que não fica claro se o que está fazendo é apenas para
satisfazer o prazer de ver o circo pegar fogo na sua loucura como o Coringa, ou
se é por ter uma certa inveja do Superman. Menos ainda é falado sobre a Mulher
Maravilha, que tem um papel crucial na batalha final, mas como disse
anteriormente, são os mistérios que provavelmente serão explicados no filme
Liga da Justiça que tem data de estreia em novembro de 2017.
A
Estética (Efeitos e fotografia):
Um dos pontos mais
fortes do filme são suas cenas de luta. O que os críticos costumam chamar de
exageros do diretor de fotografia Larry Fong e Zack Snyder, eu considero uma
verdadeira obra de arte. Movimentos de câmera que exibem toda a movimentação
durante cada golpe do personagem, sem uma grande quantidade de cortes, que
exagerados causam desconforto e um cansaço de acompanhar as cenas. E o slow
motion nos momentos certos, fazendo com que a luta entre deuses torne-se algo
grandiososo e admirável, você vê com clareza o que está acontecendo, e a sensação
de imersão na luta é muito maior. Técnica já aproveitada de um dos seus filmes
anteriores “300”, só que sem toda aquela brutalidade exagerada. Cada golpe da
Mulher Maravilha é como uma pintura. Em destaque para a cena do pulo, onde a
câmera parece saltar junto com ela.
A
Direção:
Observando as críticas, Zack Snyder é aquele diretor
que possui o trabalho amado e odiado ao mesmo tempo. Enquanto muitos dizem que
seus filmes não são bons o suficiente, a ponto de criarem petições para que ele
não dirija o próximo filme da DC. Eu os considero verdadeiras quebras ao
tradicionalismo nas histórias de super-heróis, com personagens apaixonantes,
inspiradores e surpreendentes. São filmes repletos de reviravoltas, com cenas
de ação impressionantes, e cenas marcantes com suas “fantasias realistas”, pois
são cenas com um belíssimo trabalho de computação gráfica que tornam impecáveis
os efeitos, nos imergindo naquele mundo. São filmes que marcam tanto pela
história quanto pela estética, com suas paletas de cores sombrias ou super
saturadas. Se um diretor consegue deixar uma boa identidade visual a um filme,
e gerar tantos debates, significa que ele não é um diretor qualquer.
O
Som:
Outro aspecto que também não entendi a crítica
negativa. A trilha sonora o deixa tenso o filme inteiro. Tanto com as
explosões, tanto com os sons dos veículos, a imersão nas cenas de ação e de
suspense é total, deixando-o ansioso e em agonia ampliando a sensação de: O que
vem agora? Sinto que as coisas não vão dar certo, algo grande vai acontecer. E
quando acontecem, o espanto é certo. Algo de se esperar do compositor Hans
Zimmer, que fez obras como “O Rei Leão”, e a trilogia do Batman, de Christopher
Nolan. Mas em termos de inovação acaba falhando, porque não chega aos pés dos
filmes anteriores do Batman, logo, A trilha de Batman VS Superman funciona para
manipular o público naquele momento, mas não é marcante. Talvez seja por Zimmer
querer se aposentar dos filmes de super-heróis, por ter encontrado muita
dificuldade em compor a trilha desse filme. De acordo com sua entrevista na
BBC.
As
Atuações:
Destaco a
atuação de Ben Affleck, que veio para silenciar as más línguas que ainda o
assombravam com sua atuação em “Demolidor”.
Passando muito bem a imagem de um Batman impiedoso, manipulador, onde
nada que entre em seu caminho sobrevive à sua sede por justiça e um Bruce Wayne
atormentado pelo passado, se escondendo atrás da máscara de galanteador e
playboy perante a sociedade. Enquanto Gal Gadot como Mulher Maravilha, aparece
poucas vezes no início para fazer o mistério, quando entra em cena com seus
braceletes poderosos é estonteante, mostrando toda sua garra e força para lutar
contra a criatura. Já Henry Cavill como Superman por sua vez, acaba ficando
ofuscado, até mesmo na batalha final, pois sua grandiosidade apenas surge em
seu sacrifício e em poucas cenas no decorrer do filme, como a das pessoas
salvas no incêndio o tocando como personificação de um deus, talvez por ter
feito um papel pouco explorado, onde a maioria de suas aparições resumem-se a
refletir sobre seus objetivos e salvar Lois Lane – cuja atuação de Amy Adams
está muito boa, mas a personagem não empolga tanto, mas não deixa de ser forte,
mesmo tendo que ser salva constantemente, mas porque arrisca-se sem medo em
busca da verdade, como uma excelente jornalista. Outros papéis secundários que merecem destaque
são os de Jeremy Irons – apresentando uma versão diferente do mordomo do
Batman, um senhor sarcástico e rabugento, que faz piadas sobre a situação de seu
patrão. Laurence Fishburn – como o estressado e rígido chefe de edição do
Planeta Diário e Holly Hunter como a senadora Finch, uma mulher de fortes
convicções e por elas vai até o fim, mesmo que coloque sua vida em risco. E por
último, deixo para falar sobre o controverso Lex Luthor, talvez por não ter
entendido muito bem seus objetivos, Lex é aquele clássico psicótico, uma personalidade
que muitos dizem ser bom por inovar o personagem, enquanto outros a criticam
por ser idêntico ao Coringa de Heath Ledger dos filmes do Nolan. Eu
particularmente, não achei inovador porque achei semelhanças absurdas com o
personagem de Brad Pitt em “Os 12 Macacos”: O mesmo herdeiro problemático, que
tenta sair da sombra do pai, e que tem frases filosóficas sobre os verdadeiros
anseios da humanidade e o desejo de destruí-la em meio à cacoetes e frases sem
sentido. Jesse Eisenberg como Lex Luthor – ame-o ou deixe-o.
Os
Fãs dos Quadrinhos:
Para os fãs,
o filme é um prato cheio, e é deles que vem quase toda a crítica positiva a
esse filme repleto de referências, que entendi após conversar com alguns amigos
que também são fãs. Citando a mais forte, que é a visão do Batman no deserto
distópico, o símbolo do Ômega no chão, deixa claro que o próximo vilão, talvez
o tal “ding ding ding ding ding, digo, chamado que Luthor enviou, é o supervilão da DC:
DarkSeid. Há também, uma referência à morte do Robin, quando Batman olha para a
vestimenta pichada pelo Coringa “Jokes on you Batman”, um dos motivos que esse
Batman, seja tão amargo. O próprio viajante do tempo que é o Flash, como também
mostrado na história em quadrinhos, que tem o poder de voltar no tempo por
correr na velocidade da luz, fora as cenas das pesquisas com os meta-humanos, onde
capturam as aparições de Aquaman, Flash e Cyborgue. Em suma, o filme é um convite para mergulhar
de cabeça nesse universo da DC, e ler os quadrinhos, o que não é ruim e torna
até mais interessante.
Considerações
Finais:
Batman VS Superman, não é um filme feito para os
críticos, parafraseando a atriz Amy Adams, Veja a entrevista completa aqui.
O longa fez os fãs de quadrinhos se apaixonarem e
agrada aqueles que não leram, mas que prestaram toda a atenção nas cenas, se bem
que dificilmente uma pessoa que não é fã dos super-heróis, e que nunca tenha
lido ou assistido nada a respeito deles (o que é mais difícil ainda), se
desloque até o cinema para comprar ingressos.
Quanto a forte crítica negativa, deixo a minha
reflexão: Será que é porque uma certa concorrente também pretende lançar um
filme de super-heróis VS super-heróis esse ano? Assistam ao filme e tirem suas
próprias conclusões. Vale a pena ver em tela grande todas aquelas explosões
colossais. Batman VS Superman consegue unir o melhor de dois mundos – cenas de
ação “blockbuster” e diálogos inteligentes, então não hesitem em ter essa
experiência, e tenham um bom filme!
PS:
Assistam as cenas cortadas que estão disponíveis no YouTube, pois respondem
outras perguntas.
Imagens:1 - Reprodução
2 - Thaís Carlos
3 - Twitter
4 - Reprodução